Em A República, texto escrito no século 4 a.c., Platão botou os poetas para fora de seu ideal de Estado, por considerá-los preocupados demais com a forma e pouco com o conteúdo. É de admirar tamanha contradição de um pensador que versou tanto sobre o “belo em si”, mas queria um Estado pleno de diretos e ordem.
Ordem! Essa é a palavra que não cabe no ofício dos meros artesãos de palavras.
Não ilustre pensador! Somos capazes de reunir beleza e responsabilidade, ou pelo menos alguns de nós, para alguns de nós.
Qual o papel do escritor inserido na sociedade?
Clarice Lispector, quando cobrada pela suposta alienação de seus textos, respondia que não discutia a miséria no Brasil – esta era (e ainda é) óbvia demais, e “sobre o óbvio eu não sei escrever”. Em seu tempo, Clarice nadava contra a corrente e contras as correntes...
Arredia, misteriosa, solitária, que fugia das pessoas e evitava o mundo; Lispector incorporou uma vida secreta como métodos para escrever e viver, fugindo justamente da República inatingível e imaginária de Platão.
Hoje, quem há de negar sua brilhante obra, engajada ou não, porém perturbadora? O simples ato de escrever já é uma atitude política, transformadora, capaz de expandir o universo.
Eu, uma simples mortal, com Lispector no imaginário, também não sucumbirei à era infinita da alienação! Escrevo sem militância, sem globalização ou ideologias vendidas em livros ruins. Escrevo para leitores que me escolhem, os quais aceitarão minhas apologias, meus devaneios e nada me dirão em troca. A troca é subliminar, invisível, irreal, amórfica, atemporal. É transformadora a partir do silêncio que toca as almas.
Abaixo ao submundo das análises acadêmicas!!!!
Assim como Clarice, não verso sobre o óbvio, flutuo na incerteza das palavras, no sopro do objeto sobre o qual pretendo falar, na minha solidão e nas criaturas que povoam meus sonhos.
By Anita Floyder
Na foto: Clarice Lispector
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