"One good thing about music, when it hits you ,you feel no pain.
Hit me with music, hit me with music now"
(Robert Nesta Marley- Trench Town Rock. Álbum: Confontation,1983)
A música reggae é o mais poderoso signo da cultura rasta porque incorpora a ideologia através do poder da palavra e a refrata para o mundo verbalmente. Nas letras eram usados a língua, o folclore e as expressões dos camponeses humildes da Jamaica para explicar os objetivos do Rastafári na terra. As canções versam, principalmente, sobre a vida difícil nos guetos, sobre a repressão policial e opressão social. Porém, não hesitam em tratar de temas como liberdade, esperança e amor. Entretanto, a essência da música reggae é, sem dúvida, a linguagem revolucionária.
O reggae surgiu da evolução da forma folclórica chamada mento, que inicialmente deu origem ao ska, uma mistura de rhythm and blues americano, gospel e mento folclórico. Transformando-se posteriormente em rock steady e finalmente, culminando no ritmo reggae em si, inovador e espontâneo que surgia de um impulso revolucionário local.
As letras de cunho político demonstram a sagacidade e a sua força poderosa. Em Rebel Music (3 O´clock Road Block), há a denúncia sulfurosa da repressão policial contra os Rastas; Them Belly Full (But We Hungry), explicita a situação da população desassistida dos guetos; em Real Situation a crítica incorpora ares mundias, denunciando as guerras entre nações e a corrida pelo topo do mundo. Nos temas folclóricos as assertivas são imediatamente compreensíveis para os Jamaicanos, mas obscuras para quase todos os demais. Em Small Axe, o que parece ser uma simples alegoria na qual um habitante de uma floresta informa a uma grande árvore que ela está prestes a ser derrubada, é um alerta aos opressores de que o Terceiro Mundo iria derrubá-los, mas também é um abusado aviso à indústria fonográfica Jamaicana. Sobre o mesmo tema versa a canção Who the Cap Fit, o título é um provérbio rural, utilizada como expressão local. A letra evoca a imagem de um fazendeiro espalhando ração e pensando: “Não diga que é uma galinha só por estar comendo ração; eu nunca disse que estava alimentando galinhas”.Ou seja, “Você é o que demonstra ser, e não quem você diz que ser”. Ao tratar do amor nas canções, o reggae transmite sentimentos de compaixão, esperança e lealdade. Um exemplo disso é a canção No Woman, No Cry, que se tornou uma espécie de hino da paz, conhecida mundialmente.
Embora haja uma gama de críticas advindas dos intelectuais a respeito da cultura popular tratando a tematização do barulho, o desvio lingüístico ou afirmando que ela não oferece “satisfação estética” como as artes maiores, ela continua em pleno estado de desenvolvimento e transpassando seu legado às novas gerações. Nesse sentido ressalta Shusterman (1992, p.124) ”Críticos intelectuais não conseguem reconhecer as significações múltiplas e cheias de nuance da arte popular porque eles, desde o início, mostram-se desinteressados e relutantes em dar a essas obras a atenção necessária para compreender sua complexidade”. Como já postulamos anteriormente, a sonoridade do reggae surge a partir de uma experiência ancestral, seus desvios lingüísticos são conscientemente utilizados como parte da construção ideológica do signo. Talvez a dificuldade de aceitação que enfrenta a música reggae, consista no seu caráter essencialmente criativo, original e engajado. Os intelectuais de classe média exigiam um futuro para o Caribe. Isso, porém, aconteceu com a música espontânea à maneira dos guetos, abarcando sua cultura e firmando sua identidade ideológico-revolucionária.
By Anita Floyder
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